terça-feira, 1 de agosto de 2006

JORNALISTA PETER PAN

Photobucket - Video and Image Hosting
A propósito de um post do Colin Thompson sobre o tema do Verão: porque é que não há um Lester Bangs na imprensa de videojogos:

“(…) video games have been the first new form of entertainment to grow up in age of blogging -- where amateur writers outstrip the pros. Sure, there's no Lester Bangs for video games in Rolling Stone, nor a comparable Pauline Kael in the New Yorker. But there are thousands of smart, thoughtful bloggers and forum members that every day post better writing than the stuff you'll read in the mainstream press. (…) The posters are smart, erudite, casual, passionate -- everything you'd want in video-game writing.”
Merda de Internet. Isto é de loucos. Há demasiada informação fundamental para ler.

Hoje em dia para estar mesmo em cima do que se passa no mundo quase é preciso ser pago para ficar em casa a ler blogs de forma a conseguir escrever um bom artigo por semana ou por mês. Por este andar todos os miúdos que andam na escola vão ser mais pertinentes do que jornalistas com anos de experiência, simplesmente porque têm tempo de sobra.

Perdoem-me a crise existencial de meia-idade lamechas, mas quando éramos miúdos criávamos fanzines para fazer aquilo que as nossas referências faziam ou, melhor ainda, para fazer aquilo que eles não faziam. Mas estávamos limitados pela distribuição e pela informação que recolhíamos quando não havia Net e que vinha das revistas e da rede social de cada um (com sorte conhecíamos gente realmente inteligente e culta na nossa área de interesse, caso contrário estávamos abandonados aos nossos próprios esforços de pesquisa). Agora qualquer miúdo com talento, Google, Wikipedia, eMule e eBay pode assimilar em poucos anos a informação que a nós levou muito mais tempo a adquirir, criar algo extraordinário e tornar-se uma referência planetária.

Isso já acontece. Há dezenas, centenas de jovens criadores com talento, engenho, ideias frescas e formas de expressão renovadas, e que dominam as novas formas de difusão da informação (não tanto em Portugal, onde a inteligência demasiadas vezes cita mais do que reflecte, ou assume tiques de novo-riquismo intelectual). A escrita, a imagem, os blogs, os podcasts, o peer to peer, as comunidades digitais, os vidcasts, a televisão interactiva e feita à medida, o papel digital e a distribuição digital: o futuro é desta geração multitarefa que está a despontar e que produz informação sem países nem fronteiras para uma cultura de massas. É uma geração que entusiasma, cheia de oportunidades de mudança. Só gostava de poder começar do ponto de partida que é o deles. A minha, a dos novos trintões, vai continuando agarrada a velhos hábitos (e por vezes gabando-se deles, sem perceber que hoje há miúdos com 18 anos que já estão vários passos à sua frente) ou tentando acompanhar a nova informação como pode, fazendo valer a sua experiência, maturidade, sentido de história e capacidade de relacionar tendências – e, em certos casos, o poder de vedar aos novos valores a entrada nas redacções.

Por um lado é fantástico porque vai permitir criar uma nova geração de pessoas mais informadas e com mais espírito crítico, mas a minha geração vai viver no receio de sofrer uma “limpeza étnica” daqui a uns anos. Os jornalistas são cada vez mais um produto de longevidade curta e substituição rápida e fácil. Ser jornalista está a tornar-se algo parecido com ser futebolista. Aos 30 já estamos na pré-reforma. Aos 40 já nos vão faltar as forças para brandir o comando da Wii no ar. Por favor não deixem a Segurança Social ir à falência, por favor... ;-)