segunda-feira, 29 de maio de 2006

JORNALISMO DO CIDADÃO

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Os autores de fan sites e blogs podem a partir de agora estar protegidos pelos mesmos direitos de protecção das fontes que os jornalistas dos órgãos tradicionais possuem. A decisão histórica (pelo menos não estou a par de outras situações semelhantes) partiu de um tribunal californiano, a propósito do processo que a Apple moveu contra o site AppleInsider. A empresa norte-americana queria obrigar este site a explicar como é que obteve informação sobre um produto da Apple não revelado ao público e à comunicação social.

A história completa aqui e aqui.

Por enquanto a decisão abrange exclusivamente aquele território, mas suspeito que possa servir como combustível para mais debates, no resto do mundo, sobre “o que é o jornalismo?” e “quem pode ser jornalista?”.

A questão é controversa e complexa. Obviamente que me incomoda um cenário em que a informação produzida por pessoas sem formação específica, sem um dever deontológico, que escapam a qualquer forma de regulamentação e que não têm no jornalismo a sua principal forma de subsistência e, portanto, não dependem da sua credibilidade para se manterem no mercado de emprego, possam ter quase todos os direitos e poucas das obrigações aplicados a um jornalista encartado (e uma situação destas só agravaria a desconfiança que uma boa parte da população, especialmente em Portugal, tem pela classe jornalística). Mas também nada impede que um jornalista profissional não cometa os mesmos erros e desvios da norma que um "autor por conta própria". Nem que em certos blogs não se produza informação tão boa e tão imparcial como em qualquer media tradicional. E até estou perfeitamente disponível para considerar que o chamado "jornalismo do cidadão" contribua para a pluralidade da informação necessária à qualidade da democracia - embora o excesso de informação também possa contribuir para a falta de filtragem e confusão do público.

No caso da imprensa especializada em videojogos, por exemplo, não faltam casos de gente que está mais interessada em obter jogos de borla do que em desempenhar um bom trabalho jornalístico. E a reportagem e o jornalismo de investigação como géneros nobres estão praticamente arredados da maior parte das revistas e sites especializados nacionais e internacionais.

Em Portugal, existe o estranho caso de olharmos em volta e percebermos que o número de órgãos associados a distribuidoras ou marcas de fabricantes de consolas constitui a esmagadora maioria do mercado de informação - mas, mais uma vez, isso não implica que as redacções não sejam independentes. Aliás, o jornalismo especializado em Portugal é largamente ignorado pelas autoridades do sector. Mas estas são contas de outro rosário que raramente se permite discutir (este assunto por cá é tão tabu que já sei que me vão cair em cima e sussurrar interinamente só por mencionar isso neste blog).

Será que o UN alguma vez terá de se ver numa situação semelhante à do AppleInsider?.. Bom, nem estou a querer sugerir que o que aqui se escreve seja jornalismo…

APPLEINSIDER