quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

JOGO DA SEMANA: KILLER7



Autor: Grasshopper
Editora: Capcom
Sistemas: PS2, GC

Ao longo da sua história e maturação, é natural que as artes e expressões culturais desenvolvam uma língua própria, uma gramática composta de regras, princípios e signos que regem o seu funcionamento. Mas mais de três décadas após a sua nascença, os videojogos ainda não cristalizaram essas regras. Há uma sintaxe, mas demasiado curta e pobre para o que se pretende. Talvez seja essa falta de maturidade que os tornam simultaneamente excitantes, porque surpreendentes; e ao mesmo tempo exasperantes, pela superficialidade e pouca consistência.

Por isso é tão enriquecedor, importante e até divertido quando obras como killer7 decidem brincar com as regras existentes, demonstrando que está tudo em aberto. Essa marginalidade estende-se ao conceito invulgar de um jogo que subverte todas as convenções em relação à exploração do espaço e da interacção com os seus elementos, ao mesmo tempo que é capaz de manter operacional um estranho eco de familiaridade com o passado de jogos arcade antes considerados superficiais e hoje considerados ultrapassados como Dragon’s Lair, Space Ace ou até Virtua Cop e House Of The Dead.

É normal que assim seja. O jogo é da autoria de Gouichi Suda, um homem que nas entrevistas responde pelo nome de Suda 51 e gosta de se esconder por trás de uma máscara de wrestling mexicano. Sendo japonês, o autor parte de premissas inteiramente diferentes às dos métodos de produção ocidentais (mais atentos às tendências do mercado que ao processo criativo). Gouichi Suda partiu para killer7 com um conceito estético em mente – os gráficos parecem vinhetas de banda desenhada animadas, com um traço que traz à memória um Frank Miller, um Mike Mignola e a Manga – ao qual adequou uma forma de interactividade. Como influências, cita o movimento e a arquitectura das ruas de Tóquio, coffee table books europeus sobre arte, e a música dos Franz Ferdinand e dos The Smiths (que dão o nome a todas as personagens e são homenageados com um slogan escrito numa parede: “How Soon Is Now”).

O resultado só podia ser uma obra demente, uma aventura hard boiled que mete o jogador na pele do assassino killer7, alter-ego para Harman Smith, capaz de se desdobrar em sete personalidades diferentes. Os sete assassinos não são apenas manifestações psicológicas de Harman: conseguem materializar-se num corpo próprio. É pois um mundo ilusório, em que o jogador nunca sabe quem realmente é o verdadeiro eu. Esta equação torna-se ainda mais complexa quando se depara com fantasmas, antigas vítimas de Harman, que lhe vão cedendo pistas sobre a conspiração da organização terrorista Heaven Smile.

killer7 é sobretudo um exercício de estilo formal, que desafia permanentemente o jogador a reagir e a questionar não só este jogo como todos os outros que experimentou até aqui. Mas, ao desprezar propositadamente o elemento fundador deste medium – o entretenimento interactivo - arrisca-se a esgotar-se nesse exercício.

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