quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

CHOQUE DE CULTURAS


É habitual ver a forma por vezes descarada como os americanos retalham e reconstruem produtos culturais originários do Oriente, de forma a adaptá-los aos seus valores. O Luís Canau, no site CineDie, deu um bom exemplo desta prática a propósito da então estreia portuguesa de “Princess Mononoke”, o filme de animação do mestre Hayao Miyazaki. Fica aqui um trecho do artigo completo, que está aqui.

"Procurou-se alcançar um compromisso entre a fidelidade à obra original e a compensação devida pelo background cultural, sobre história e mitologia japonesa, que o espectador médio americano não tem. O segundo princípio parte de uma lógica ligeiramente pervertida, que se entende porque os EUA, na vertente Hollywood-Disney, são uma nação onde a entrada de elementos de culturas estrangeiras é mínima. Ou seja, afirma-se que um público de determinada cultura ou país não pode ser exposto a uma cultura diferente, sem estar constantemente a questionar as coisas que não compreende, como se pudesse esperar e lhe fosse legítimo exigir sempre que as outras culturas se “façam entender”. É este princípio que tem exigido a Americanização dos filmes estrangeiros, que normalmente passa por acções como a censura, a remontagem, a alteração do sentido de segmentos inteiros e a dobragem. O mecanismo é algo irónico, para não dizer hipócrita. Começa-se por comprar um filme por ter algo de diferente, fruto de uma sensibilidade que não pertence ao país ou a Hollywood e termina-se a tentar fazer a obra o mais hollywoodesca possível. [Exercício mental: visualizar o seu filme japonês de época favorito, adaptado para as massas americanas do futuro, onde os pauzinhos e os kimonos foram substituídos digitalmente por talheres “a sério” e fatos e gravatas.]"
Mas e quando se faz o percurso inverso?
No caso dos videojogos, são raros os produtos ocidentais que singram no mercado nipónico e sul-coreano. Para combater a resistência à “ocidentalização”, as editoras norte-americanas e europeias são forçadas a fazer algumas alterações aos seus jogos, que vão desde a apresentação de embalagens adaptadas ao redesenhar, no próprio jogo, de personagens.

O Hardcore Gaming 101 mostra alguns exemplos de caixas de jogos que foram adaptadas ao mercado nipónico. Vejam aqui.